22 julho 2018

A Obrigação De Produzir Aliena A Paixão De Criar

INTRODUÇÃO 
Conheço uma porção de artistas amadores em minha região, sigo alguns em minhas redes sociais. E,  na qualidade de homo sapiens com neandertal - observador de  padrões - tenho refletido em alguns comportamentos característicos destes artistas amadores em tempos de redes sociais virtuais, ao qual me incluo.

Não se trata de uma crítica, mas apenas algumas reflexões sobre o tema.


DIFICULDADE DE SER TOTALMENTE VOCÊ


"A obrigação de produzir mata o desejo de criar" 

É possível notar - e isso não é novo - uma corrente de artistas, especialmente músicos, se render - devido as dificuldades, que são muitas, é claro, mas também sem muita relutância - às regras do mercado.

Criadores de conteúdos novos e diferentes deixando sua arte genuína de lado em troca de obter algum lucro real e imediato, como por exemplo, quando abandonam projetos de músicas autorais para tocar cover em bares e restaurantes. É o sistema de exploração econômica se sobressaindo sobre todos os outros valores das sociedades ou somemte preguiça ou falta de crer em si próprio? 

Tendemos a incorporar o papel que a sociedade e suas tradições sociais esperam de nós e muitas vezes reprimimos nossos sentimentos mais genuínos.

Há uma pressão social difícil de nos libertar.

Às vezes esse artista precisa dividir seu tempo entre sua arte e sua família. Escolhendo dedicar-se a qualquer um dos lados, lamentavelmente, terá que esquecer um pouco o outro. Quando tenta dedicar-se igualmente aos dois lados tende a ser superficial em algum momento.

.Familiares que supervalorizam a família poderão acha-lo um esquisito, um insensível.

.Pessoas  que observam sua tentativa sempre primária de fazer arte poderão vê-lo como medíocre.

.Por ser iniciante ou amador ,então, e trabalhar em outro ramo pra sobreviver, a situação se complica.

.Se este segundo trabalho, que muitas vezes garante o sustento de sua família, for um trabalho braçal, de movimento repetitivo, em local barulhento, insalubre, lhe será consumido parte da sua disposição e saúde que é requisito fundamental para, por exemplo, um guitarrista que precisa dos membros inferiores bem descansados e ágeis e da audição preservada.

.Se neste trabalho ganha pouco e, portanto, se põe a fazer cursos profissionalizantes ou faculdade pra melhorar de vida economicamente e assim poder projetar melhor o seu tempo no que realmente gosta, a situação que já passava uma impressão de superficialidade, mas que no fundo pode ser mesmo bem exaustiva, pode ficar ainda mais tensa, ou seja: tá fodido !

        REDES SOCIAIS

As redes sociais são grades espaços para divulgação de trabalhos, o artista deve tirar bastante proveito, mas pode ter dificuldades. Parece mais facil se render completamente as regras do mercado. Caem, por exemplo, em um "Sentir-se obrigado", ou "vício" em querer agradar o tempo todo, gastando muitos esforços para conquistar público, numa concorrência típica do sistema vigente que visa lucro e mais público, curtidas e compartilhamentos e não necessariamente a arte em si.  

Ocorre que alguns tentam cativar o máximo de pessoas possível, agindo como políticos.

O artista amador também espera que seu trabalho seja reconhecido, o que nem sempre ocorre, pois na internet fica fácil desprezar publicações, até pela quantidade a que nos deparamos. Coisas como fofocas, piadas e tragédias acabam prevalecendo. além do mais, todo mundo quer seus minutinhos de fama ou reconhecimento, não só os artistas.
Um trabalho artístico é como um filho e, joga-lo no caldeirão de publicações de todos os tipos pode ser frustante. Mas por outro lado, pode ser um desafio.

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Oscar Wilde, no seu belo ensaio - A alma do Homem Sob o Socialismo-  de 1891, já nos trazia uma excelente reflexão que tocava nesse assunto. Wilde entendia que o sistema vigente forçava  a desprender muito tempo nos afazeres de coisas indesejáveis, monótonas e braçais, o que agradava muito mais a vontade alheia e nos impede de desenvolver nossa própria personalidade e o individualismo de ser ao invés de ter. Somente com tal individualismo poderíamos chegar a perfeição em qualquer atividade - ou caminhar neste sentido. Wilde argumentou que a principal mensagem de Cristo seria justamente a de "ser" e não de "ter". Wilde ainda sugeriu que todo trabalho, não intelectual, deveria ficar, em um futuro, à cargo das máquinas.




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